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Multietariedade: como funciona e importância

No ambiente familiar, todos temos a oportunidade de conviver com pessoas mais velhas e mais novas do que a gente. No mundo profissional, acontece o mesmo. Por que somente na escola não há multietariedade e as pessoas são segmentadas de maneira tão rígida, de forma que uma diferença de meses possa separar o estudante do convívio e do espaço de aprendizagem do colega?

Na Lumiar, não seguimos essa lógica seriada e estanque porque acreditamos que os encontros entre estudantes de diferentes idades promovem, além da socialização, outros tipos de aprendizagem.  Durante a participações em projetos e oficinas, eles trocam ideias, partilham conhecimentos e se inspiram uns nos outros. 

MULTIETARIEDADE

Assumir esta organização diversa no ponto de vista etário, no entendimento da Metodologia Lumiar, é assumir a perspectiva da complexidade no processo de aprendizagem – requisito para que se concretize o desenvolvimento das competências do século XXI. 

“Nos desfazemos daqueles paradigmas de que os mais velhos sabem mais, de que o mais velho ensina o mais novo, ou ainda de que aquele que sabe mais ensina o que sabe menos”, diz Graziela Miê, diretora da Lumiar Santo Antônio do Pinhal. “Nada disso é estanque”.

Turmas multietárias: estudantes agrupados por ciclos 

Na Lumiar, os estudantes são divididos em ciclos. Na Educação Infantil, temos o I1 (zero a dois anos), o I2 (2 a 3 anos) e o I3 (4 e 5 anos). Já o Ensino Fundamental é constituído pelo Fundamental 1, que abrange estudantes do 1º, 2º e 3º anos; Fundamental 2, para estudantes do 4º, 5º e 6º anos; e, por fim, o Fundamental 3, com estudantes do 7º, 8º e 9º anos.

É importante salientar que os estudantes que compõem esses grupos continuam formalmente vinculados ao ano escolar equivalente à sua idade. A cada ano, eles seguem pelos séries escolares subsequentes, mesmo permanecendo nos ciclos por até três anos. 

Multietariedade nos projetos

Nos projetos, a divisão dos papéis nas turmas multietárias acontece de maneira natural, provocando a cooperação entre os estudantes e oportunidades para as crianças irem até além das expectativas prévias. Há projetos que são desenvolvidos com as crianças de um determinado ciclo e outros que vão além e unem estudantes de ciclos variados. 

Na Unidade de Santo Antônio do Pinhal, por exemplo, a tutora Liss M. Mineiro Matos está desenvolvendo um projeto sobre plantas que abarca os estudantes dos três ciclos do ensino fundamental. Após o processo de levantamento de interesse mostrar que todos eles estavam curiosos para aprender mais sobre o tema, Liss desenhou o Plantásticas.

O objetivo deste projeto é abordar tanto aspectos microscópicos (a célula, a fotossíntese) como macroscópicos (estratégias para viver em ambientes extremos, por exemplo) do universo vegetal.

Pode parecer complexo juntar crianças com expectativas de aprendizagem diferentes num mesmo grupo e em um projeto com o mesmo tema. Mas não é. É estimulante e muito rico”, conta Liss. “A apreensão de conteúdo de uma criança do F1, no mesmo projeto e ouvindo as mesmas coisas, é diferente de um estudante do F3. O tutor já tem essas expectativas desenhadas separadamente.”

No caso de Plantásticas, explica Liss, apesar de as habilidades a serem desenvolvidas por todos terem relação com o desenvolvimento de responsabilidade ambiental e com a interdependência parte-todo e todo-parte, os conteúdos a serem assimilados serão distintos.

“Espero que uma criança do F1 aprenda coisas mais simples e básicas, como por exemplo como as plantas se relacionam com o ambiente e as diferentes partes das plantas: raiz, caules, folhas. Já para o estudante do F3 eu espero um entendimento da fotossíntese e de como se deu o processo evolutivo.”

Isso significa que, na Metodologia Lumiar, além de agrupar as idades, a multietariedade implica em dar espaço para a diversidade de hipóteses, de estratégias e de encaminhamentos possíveis, abrir caminho para diferentes formatos das parcerias de trabalho entre os estudantes.