Não se trata de abrir uma cartilha e decorar as letras e nem de cumprir um programa desenhado por um professor isoladamente. Na Lumiar, a alfabetização nasce a partir do engajamento das crianças nos projetos, nas oficinas e nos módulos que elas exploram em cada período.
“A gente trabalha a alfabetização sempre a partir do contexto. Não tem aquela lógica de aprender primeiro as letras, depois as sílabas. A gente já começa com a função social da escrita”, explica Alice Jimenez, tutora do Fundamental 1 da Lumiar Santo Antônio do Pinhal.
O aprendizado da escrita, por exemplo, considera o texto no contexto que faça sentido às crianças. Isso significa que as experiências usadas para registro são do cotidiano e do interesse delas.
Em vez de uma cópia de conteúdo, os estudantes são estimulados a fazer diferentes registros no Diário de Bordo sobre o que aprenderam nos projetos, a registrar sua opinião sobre algum acontecimento discutido no momento da Leitura de Mundo, a escrever um recado à família ou a montar uma parlenda para ser colocada no mural da escola.
“O diário de bordo é uma ferramenta importante para que as crianças escrevam e façam outros registros todos os dias. Os módulos a gente usa para sistematizar um conteúdo que precisa ser refinado, como uma regra ortográfica ou gramatical”, explica Mariana Brancaglione, tutora do Fundamental 1 na Lumiar São Paulo.
É no Fundamental 1, com crianças de 6 a 8 anos, que o processo de letramento ganha evidência. Isso acontece porque é exatamente nessa faixa etária que os estudantes começam a ter mais interesse pelas habilidades de leitura e escrita: querem escrever um bilhete para um amigo, entender o que está escrito nos ambientes que circulam, como os murais da escola, e ler obras que os instigam – de um gibi a uma adaptação de “Os Lusíadas”.
A partir desses interesses que naturalmente instigam a criança para a escrita e para a leitura, cabe aos tutores fazerem os encaminhamentos necessários para que cada estudante desenvolva seu processo e percurso da aquisição da escrita a partir do estágio em que está.
Alfabetização em turmas multietárias
Na Lumiar, como os ciclos são multietários, as crianças com hipóteses mais avançadas firmam seus conhecimentos à medida que ajudam os mais novos a organizar e estruturar suas escritas. As crianças com hipóteses de escrita menos avançadas, tendem a pedir ajuda a seus colegas mais experientes e se inspirar por seus registros.
Uma criança com uma hipótese predominantemente silábica precisa de uma intervenção diferente de uma criança alfabética que começa a se preocupar com a grafia convencional das palavras.
O tutor precisa ter uma boa compreensão sobre como se dá o processo de aprendizagem da língua escrita, conhecer diferentes abordagens e estratégias para a alfabetização. Sempre que necessário, ele pode revisitar as perguntas norteadoras “sobre o que, para que e para quem escrever” e, assim, apresentar propostas para manter os estudantes engajados em seus processos.
As intervenções e correções (pontuação, ortografia, espaço entre as palavras, coerência, etc) devem sempre respeitar o desenvolvimento de cada estudante ao mesmo tempo que o instiga a avançar no conhecimento de padrões e normas da língua e a aprimorar habilidades comunicativas.
O objetivo último é que todos os estudantes se apropriem dos diferentes usos da língua para o desenvolvimento de competências orais, escritas e leitoras que lhes permitam uma efetiva participação social e exercício da cidadania.