Você já deve ter ouvido dizer que todo mundo deveria ler os “clássicos”. Sim, a afirmação é conhecida e, normalmente, é dita como se fosse um veredito doído: “Apesar de densos e chatos, é preciso ler os clássicos, até porque serão cobrados nos vestibulares.”
A verdade, no entanto, é que essa fama dos clássicos é injusta. Os clássicos são chamados de clássicos exatamente porque o conteúdo deles se sobrepõe ao momento histórico em que foram escritos e dialogam com diferentes épocas e locais. É uma abordagem que tem a humanidade como centro da construção do texto. Entram aí as questões éticas, estéticas e existenciais que permeiam o homem de qualquer canto e a qualquer tempo.
No projeto “Arte da poemação 2”, os estudantes do F3 estão lendo “O Alienista”, de Machado de Assis, e fazendo correlações desse clássico da literatura brasileira com canções do Criolo, do Raul Seixas, além de alguns raps e poemas.
“Já vínhamos trabalhando poesia no bimestre passado e, neste bimestre, surgiram dois interesses díspares na turma que busquei conciliar com este projeto”, afirma a mestre Ana Luiza Braga de Faria Mello.
Machado de Assis: clássico e atual
O pedido da leitura de clássicos e do próprio Machado de Assis surgiu do Caíque Felipe Alves Claro, de 14 anos, enquanto o Flavio Alexandre Alves Pereira, de 12 anos, queria que houvesse continuidade no trabalho com questões contemporâneas por meio da música, como havia sido feito no bimestre anterior.
“Então pensei nesse texto do Machado, que é absolutamente atual, brilhante no seu retrato da corrupção generalizada e no uso da ironia. Fazendo essa leitura de textos críticos com quase 150 anos de distância entre seus momentos de publicação, tivemos a oportunidade de comentar sobre questões históricas do país e o papel da poesia, da literatura e da música enquanto formas criativas e expressivas críticas”, conta a mestre.
Nos últimos encontros, a turma relacionou o desfecho de “O Alienista” e as possíveis relações entre a crítica social feita no conto com obras contemporâneas, mais especificamente as canções “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho; “Fermento pra massa”, de Criolo; “Que país é esse?” do Legião Urbana e a produção e prática da batalha de poesia do “Slam das Minas”.
“Estou achando bem legal, com uma linguagem bem diferente da nossa. O livro O Alienista tem a ver com a realidade, com a ostentação de as pessoas quererem ser melhores que outras, manifestações e greves, preconceito. Comparar com os textos contemporâneos mostra que muda a linguagem e o contexto histórico, mas algumas coisas nunca mudam”, compara Flavio.