O combinado não sai caro. Desde o infantil, estudantes da Lumiar são convidados a fazer combinados, sempre visando o bem-estar de todos. Em vez da simples comunicação de uma regra, a ideia é que as decisões envolvam a participação dos alunos, por menores que eles sejam. Se a regra vem pronta, os combinados na escola são construídos coletivamente, o que faz com que cada um também se sinta responsável por fazer valer. Quando uma criança é convidada para participar da discussão, promove-se a sua autonomia.
“No infantil, é muito importante que a gente converse sobre coisas que eles lidam na escola. Por exemplo, o uso dos brinquedos no parque”, diz Liss M. Mineiro, tutora da educação infantil na Lumiar Santo Antônio do Pinhal. Tudo é feito com base em perguntas para os próprios alunos, respeitando os princípios da gestão participativa. “Perguntamos para as crianças quais brinquedos podemos usar do lado de fora e quais devem ficar dentro do espaço. De acordo com a resposta, perguntamos o porquê”, explica.
O conceito dos combinados, que podem ter a ver com qualquer atividade do cotidiano, mostra também como o estudante fica muito mais motivado a seguir uma regra quando ele participou da decisão. Se a escola apenas informa que os talheres devem ser colocados sob o aparador após as refeições, muitas crianças podem querer burlar a ordem. No entanto, se a decisão tiver sido tomada após uma reflexão coletiva sobre a importância de colaborar com a equipe de limpeza, o ato não será entendido como uma imposição, mas incorporado naturalmente no cotidiano.
A partir daí, esses combinados devem ser retomados, periodicamente, para que as crianças aprendam a avaliar o que está ou não acontecendo. Com chance de, inclusive, revogar um combinado e colocar outro no lugar.
Combinados na escola: quando um aluno do infantil faz a diferença
É importante ter em mente que dar voz aos estudantes, é considerar, de fato, a opinião deles sobre os temas. Mesmo quando eles são ainda muito pequenos. Na Lumiar Santo Antônio do Pinhal, por exemplo, a turma do I3 – que reúne crianças de 4 e 5 anos – não queriam mais participar da Roda (nosso encontro semanal com a participação de todos os estudantes). O motivo era simples: achavam muito cansativo ficar uma hora sentados.
Ao ouvir a petição, Liss explicou a eles que, caso não fossem para roda, decisões importantes poderiam ser tomadas e eles não teriam como interferir. Mesmo assim, as reclamações continuaram. “Então, os alunos sugeriram fazer uma roda com a diretora e fizemos uma roda extraordinária, em que eles puderam explicar sobre como se sentiam cansados”, lembra Liss.
No meio da conversa, veio a sugestão de uma estudante: “porque que a gente não faz duas rodas com metade do tempo, em vez de uma de 50 minutos?”. O infantil levou essa pauta para a roda com todos os alunos – e todos gostaram da sugestão. A sugestão de uma criança de 5 anos modificou a dinâmica da escola e criou um novo combinado.
E quando os combinados na escola não são cumpridos?
Repetidas vezes alguns combinados acabam não sendo cumpridos. Neste caso, existe um combinado geral que vale do infantil ao F3: lembrar e alertar o amigo. “Eles mesmo vão se ajudar. Uma criança pode avisar à outra que o brinquedo precisa ser guardado no lugar certo”, lembra Liss.
Se não funcionar, um adulto pode ser chamado para ajudar – sempre com uma abordagem propositiva. Afinal, longe de ideia de punição, os combinados devem centrar-se em estratégias de negociação, de incentivo à construção de convicções sobre relacionamento interpessoal.